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Texto finalista na categoria Memórias Literárias da Olimpíada de Língua Portuguesa 2010

20:28 A leitora 0 Comentários Categoria : , , ,



Olá Leitores! O texto que disponibilizo aqui foi escrito por uma aluna da Escola Jamil Abrahão Saad, da cidade de Cordeirópolis, em 2010, para participar da Olimpíada de Língua Portuguesa, sendo que, como consta no título do post, foi um dos finalistas. Uma vez que o tema da Olimpíada é "o lugar onde vivo", viaje no tempo e conheça um pouco da história da pequena-grande cidade chamada Cordeirópolis.



Trilhos de um pé vermelho


Alunos na estação ferroviária de Cordeirópolis
      Caminhando pela praça, percebo como Cordeirópolis mudou. As casas, as lojas, os mercados, a praça central, nada é igual, se comparada aos meus tempos de garoto. Houve muito progresso, mas nem todas as mudanças foram para melhor.
      O que aconteceu com a minha amada estação ferroviária, onde trabalhei 30 anos, 6 meses e 2 dias, é uma dessas mudanças que me faz chorar. Com 87 anos, é muito triste para este “pé vermelho” – Manoel Eduardo – aceitar as ruínas que vejo hoje em seu lugar, que antes tinha um colorido especial, cheio de vida, embalado pelo doce som do trem, música para meus ouvidos. Ah! Nós, moradores dessa cidade, éramos conhecidos como “pé vermelho” porque a terra aqui é de um vermelho muito forte, e quando andávamos pelas ruas ainda não cobertas de piche, manchava nossos pés.
        A estação era mágica, o cheiro dos doces, da fumaça quando o trem apitava na estação, o perfume das donzelas – hoje simplesmente garotas –... tudo se misturava no ar criando um novo aroma.
      Ficava 8 horas ,todos os dias, responsável pelo controle dos horários, manuseando as alavancas que colocavam os trens nos trilhos corretos, evitando que se chocassem. Cada Maria fumaça –locomotiva a vapor do início do século XX- que apitava no horizonte, fazia me sentir importante e ficava ansioso para ver em cada janelinha dos vagões uma face única.
      Quantas lembranças boas da minha estação daqueles tempos, que agora se desbotam perante a tristeza que sinto ao vê-la hoje, pois lutei tanto para que ela fosse amada e respeitada, mas o que observo é o contrário. Não há mais nenhuma melodia, nenhum perfume, só o latido cortante do cachorro vira lata, amarrado à carcaça enferrujada daquilo que um dia foi um carro, mato saindo de dentro da minha cabine, agora destelhada, e se espalhando pelo chão, tudo combinado com as casas arruinadas, refletindo a dura situação dos pobres moradores, que compartilham com a estação a desilusão do abandono.
       Essa situação de desprezo me dá muita dor no peito, fico sem fala, e essas lágrimas que umedecem minha pele enrugada são como chuva tentando trazer vida nova à terra seca. Todo esse desrespeito com as coisas de nossa história e com a minha idade já avançada fazem com que eu não tenha mais esperança de ver outra vez os trens passando pela nossa velha estação, levando e trazendo vida a tantos lugares.
        Espero que este lugar, outrora o coração de nossa cidade, hoje símbolo do descaso social, seja revitalizado para que novas gerações amem e zelem por ele, assim como eu fiz no passado, que os próximos “pés vermelhos” olhem para o futuro, cuidando do presente e, dessa forma, possam “trilhar” suas histórias.

Andréia Marinho de Sousa - aluna da E.E. Jamil Abrahão Saad.

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